Sábado, véspera de eleições autárquicas. Um sossego contrastante com as arruadas pelas quais passei ontem, onde o povo passeava alegre a abanar bandeiras e cachecóis, com esperança por um futuro melhor. Cheios de confiança de que os seus líderes políticos vão conseguir concretizar as promessas que fazem.
Eu sou novo aqui. Mudei-me em janeiro para cá, então não faço ideia de quem está na Junta de Freguesia ou na Câmara Municipal. Não sei o que foi feito nos últimos 2, 4, 10 anos. Não sei quem estava no poder há 5 ou 8 anos. Não consigo comparar o presente com o passado.
Estou sentado na esplanada do café do meu prédio, a pensar como nos últimos anos tenho desenvolvido um interesse crescente por política e fatores económico-sociais. Em como tenho procurado entender a importância do voto e da democracia. Acredito que se deva ao passar da idade e ao facto de valorizar outras coisas além dos planos do fim de semana ou da conversa, por acaso interessante, que se teve com o pessoal no café, trabalho, etc.
Talvez seja por o meu filho estar a crescer e, agora com 18 anos, eu pensar constantemente em como ele se vai enquadrar no mercado de trabalho quando decidir acabar de estudar.
Como vai ser como o meu filho?
Nas dificuldades que ele poderá sentir para encontrar um emprego que o valorize, que não tenha um ambiente tóxico e lhe permita ganhar experiência e conhecimento. Nas dificuldades que ele certamente vai encontrar para, mesmo que se junte com alguém, comprar ou arrendar uma casa que lhe dê o conforto e a qualidade de vida que merece. O receio que eu tenho — não posso negar — de que ele decida emigrar para ter mais hipóteses de uma vida melhor. Inevitavelmente, caso ele assim o decida, irei apoiá-lo, mesmo que isso signifique a nossa separação física e a tristeza que nos vai provocar, aos pais dele — só de pensar e escrever isto, já senti o nó na garganta e os meus olhos humedeceram.
Embora diga recorrentemente que a humanidade me desilude, no meu íntimo acredito que um dia seremos conscientes e saberemos conviver e proteger-nos em comunidade. Mas sou muito ingénuo.
O meu voto vai ser…
Sei que o voto numas autárquicas não é diretamente impactante nas preocupações que tenho sobre o meu filhote, mas a minha ingenuidade não é assim tão grande ao ponto de não saber que os resultados a nível nacional terão impacto nos partidos e nos eventuais crescimentos de visões extremistas ou no desaparecimento de partidos fundadores da nossa democracia.
Ainda assim, votar em consciência não é algo que sinta neste momento. Não conheço os candidatos ou o que defendem. Estou, neste momento, dividido entre a abstenção, o voto em branco ou o voto útil — conceito com o qual não concordo.